Dia aleatório, de um mês qualquer, e de um ano ainda mais qualquer.
Faz frio. Muito frio.
Uma longa tragada. Sopro demorado. Um gole.
Saca do celular. Aqueles cliques das teclas sendo acionadas sobressaem-se da música que escuta.
Digita.
"O tempo passa, muitas vezes, de maneiras que a gente não entende, né? Por exemplo, quando abri os olhos hoje pela manhã, não imaginei que fosse me sentir tão bem quanto agora... Não imaginei que as horas fossem ser esgotadas assim, à esmo. Que ia me sentir ansioso, agoniado, mas, ao mesmo tempo, feliz. Que ia me sentir de quinhentas maneiras em dois segundos.
Quando saí da cama, não pensei que fosse te odiar. Nem pensei que fosse te amar. Nem te odiar de novo e nem te amar de novo.
Haha
Como pode?
Quando saí da cama, não quis realmente levantar. Levantei, inicialmente, pela obrigação do ato em si. O ato de levantar. O ato de seguir com a vida e com as horas como as pessoas adultas fazem.
Quis que o tempo passasse rápido pra que eu pudesse dormir de novo.
Mas, olha só que engraçado: você me fez desejar que o tempo passasse devagar. Fez com que dormir se tornasse a minha última opção.
Aliás, dormir? Nem passou pela minha cabeça.
Eu queria mais daquilo ali. Daquele negócio de te ver falar sobre as suas séries, seus filmes, seu trabalho, seus joguinhos do celular. Sobre aquele amigo com quem ce tretou ou sobre aquele que ce não vê há tempos.
Queria te ver abraçar mais aqueles que lhe são queridos. Queria te ver dançar mais aquelas que ce chama de 'suas músicas'.
Às vezes, eu acho que esse tempo curto é um filho da puta que me faz apaixonar-me cada vez mais por você. Depois, eu encaro-o como aquele baixinho do fundamental que ninguém dava um real e que, após umas doses de vida, torna-se a aquele mais atraente que já se viu.
Seu tempo é isso pra mim: aquele que por menor que seja, me deixa preso de uma maneira que me faz saber até quantas polegadas ele mede.
E me faz amar cada uma delas."
Ele apaga o cigarro.
Joga a lata fora.
Deleta a mensagem.
"Quão idiota ela me acharia agora?"