Crescer memorizando as rachaduras e os mofos nas paredes do quarto que divide com a irmã até alta adolescência. Olhar pra todas aquelas partículas e pensar em como elas, um dia, podem vir ao chão.
Se de uma vez. Se aos poucos.
Imaginar, sempre, que alguma mudança pode acontecer. Que algum dia pode ser salvo de sabe-se lá o quê.
Você, que assume ser um tipo diferente de pessoa. Que se questiona como eles - seus, até então, amigos - podem achar toda aquela realidade sensacional sendo que, pra ti, é tudo tão deprimente e vazio.
Carro.
Moto.
Mina.
Ao olhar pra esses mano (ainda) te vem o tal "isso aí não é tudo, chapa" e que, se for pensar de forma fria, eles somente não sabem o que há atrás daquelas paredes nas quais escolheram viver.
Nota mental: entenda paredes fora do sentido figurado.
As suas podem ser aquelas feitas de concreto. As deles são os três anteriormente citados com um plus de algum status na vila. Algum respeito. Seja lá o que isso venha a ser ou como se faz pra ter.
Nós somos donos, construtores e demolidores de nossos próprios muros.
Mano, quando te colocam na cabeça que ce tá destinado a ser maior sem nem dizer uma só palavra sequer, ce percebe que o único quarto que vai te manter recluso é aquele que existe dentro do teu próprio cérebro onde todos teus sonhos lá estão contidos. Sem ter de esperar para que o universo se alinhe, sem esperar por eclipse ou paraíso astral.
Todos os dias, olhar pra fora da tua janela, frustrações impacientes sequer encostando no teu travesseiro, acordado à noite enquanto a mente viaja por aí, tu vai pensar em todas as coisas que poderiam ter sido diferentes, se tudo tivesse mudado da noite pro dia, se tivesse tomado a pílula azul ao invés da vermelha.
Mas nada disso mais importa. Aquelas quatro paredes que pensava te envolver, não mais existem. Sonho é questão de objetivo e não mais de reclusão.
Falo poeticamente, mas se tem uma coisa da qual não me orgulho é de minha ignorância iminente pra uma par de coisa e, claro, de como a felicidade é algo figurativo. Afinal, a gente consegue sim ser feliz por quem somos. Independente de onde estivermos e/ou morarmos.
Seja em nós ou em quatro paredes quaisquer.