segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Dezoito anos already.

Esses dias ce tem me feito muita falta, sabe? Por mais que pareça estúpido... sei lá. Mesmo após dezoito anos, eu ainda sinto a sua falta, e muito.
Nunca tive - classificarei dessa forma -  a audácia de escrever sobre você. A verdade disso? Desconheço. Talvez seja medo de chorar enquanto digito ou talvez, mesmo após toda essa caralhada de anos, eu ainda não tenha superado.
Ok, vão dizer: "NOSSA mas você tinha nove anos, não tem como lembrar de nada".
Engano seu.
Me diz: como você esquece um cara que não tinha vínculo algum com a sua mãe, mas a tratava como filha? Fosse diante dos seus olhos, fosse diante dos filhos dele. Fosse onde fosse.
Aguardava ansiosamente a hora que ele chegava do trabalho. Me escondia atrás do braço do sofá da casa dele toda vez no intuito de assustá-lo (como se ele já não soubesse de onde eu iria surgir, afinal, o ritual era repetido todos os dias). Ele sempre tomava aquele susto super encenado, mas me acabava de rir. Enfiava a mão em um dos bolsos e distribuía chicletes para meus primos, pra minha irmã e pra mim. Sempre igualmente. Após isso, ele ia em todas as casas ver como todos estavam. Checar se seus três filhos - meu pai, e duas tias - estavam ok.
Amava o jeito que ele conversava manso, voz grave e decidida. Sincera. Verdadeira.
Sua postura era a mesma em qualquer lugar. Desde casa até a mesa de bar.
Durante muitos anos, ele era o único adulto que ia na minha casa para ver e passar horas conversando com minha mãe. Sentava no sofá, tomava um café e ficava ali, de calça social, sapato preto, as pernas cruzadas e um cigarro pendendo de um canto da boca. Um verdadeiro gentleman de sua época.
Eu amava aquela sensação de olhar nos olhos dele e ver a iminente retribuição. Ver a maneira como lia a minha alma e sabia tudo o que eu sentia e pensava.
Confesso que não senti a sua perda de pronto. Na verdade, fui senti-la só uns anos depois quando a diferença de tratamento para com minha mãe, minha irmã e eu se tornou visível. Quase palpável, diria.

Ninguém gosta de admitir que é preconceituoso, eu sei. Mas enfim. Isso é assunto pra outro momento.

Perceber que o tive por tão pouco tempo é uma das maiores dores que já senti. Sério.
Sabe, fico pensando: será que você teria orgulho de mim? Do que me tornei? Provavelmente ficaria bem puto por descobrir meu vício em nicotina, mas sei que seria uma ótima companhia para uma cerveja.
Gostaria de que você conhecesse meu filho. Queria saber o que você iria achar da minha vida, das minhas escolhas...
Às vezes, quando ando em meio uma puta multidão, confesso que espero ver o seu rosto.

Caralho, vô, sinto demais a sua falta. Muito mesmo.