terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Militante e vítima.

Da mesma maneira que tem gente como um tal de Sergio Camargo - preto, bolsonarista e que diz que não existe racismo no Brasil -, Karol Eller é uma negacionista da homofobia. Segundo sua própria lógica, "cansei de expor explicitamente que o gay discreto - aquele que não afronta os bons costumes da família brasileira - não corre nenhum risco".
Ou seja: se você é gay e expõe a sua forma de amar na frente de um desgraçado homofóbico, VOCÊ se pôs naquela situação.

Karol é o tipo de pessoa que culpa a vítima

Esse tipo de raciocínio, obviamente, machuca gente pra caralho. Literal e não-literalmente.
Machuca a moça estuprada que tem que ouvir que a culpa foi do vestido que ela tava usando ou do álcool que ela consumiu. Machuca o preto que foi humilhado na Oscar Freire mesmo cheio dos plaquê de 100 no bolso e tem de ouvir que não existe racismo pra quem é rico. E machuca muito também o gay que toma uma bica sabe-se-lá de onde só porque estava andando de mãos dadas com seu/sua namorado(a).
Karol aprendeu da maneira mais brutal possível que ela estava errada. Aprendeu que quando um grupo normaliza e/ou tenta passar pano pro preconceito dando espaço pra que ele seja manifestado publicamente e, muitas vezes, defendido, TODA a sociedade perde. E foi justamente isso que o grupo político dela fez e ainda faz.
Seu atual empregador, um cara que ela acha MUITO BACANA - inclusive, com quem tirou várias fotos carinhosíssimas (sendo bastante úteis durante a campanha pois fez ajudar a reduzir sua rejeição) -, já disse um milhão de frases homofóbicas.
Poder que, nessa época, Karol tenha sido uma "inocente útil". Depois, não mais.
Não depois de aceitar o cargo.
Passou de iludida a cúmplice. Cúmplice paga com dinheiro público.

O meu ponto aqui é: exigir que a comunidade LGBTQ+, a esquerda, progressistas ou anti-bolsonaristas venham a sair em defesa da Karol com o mesmo afinco quaisquer homossexuais que não renegaram a causa e não chamou seus semelhantes de "vitimistas" ajudando assim a confundir as pessoas e disseminar conceitos que atrapalharam MAIS AINDA a vida dos LGBTQ+s nessa porra de país, é pedir SÓ UM POUQUINHO de mais.
Num acha não?
Sei que eu não sendo alguém da comunidade não tenho lugar algum de fala (muitos dirão). Repito: tem um abismo GIGANTESCO entre o que eu tô falando aqui e o "bem feito", "apanhou pouco".
NÃO!
EU NÃO ESTOU DIZENDO ISSO!
O que eu estou dizendo é que ela mesma disse que esse tipo de coisa jamais aconteceria com ela ou com todo e qualquer gay "que se dê ao respeito".

Ela como vítima merece toda a solidariedade.
Ela como aliada dos homofóbicos, não.

Se ela sair desse episódio com o mesmo pensamento e continuar dizendo que a culpa é da vítima, a coisa vai ficar ainda pior.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Não nos cabe controlar o mundo.

Na mesma semana em que a ministra da família - vulgo Damares Alves - aparece como a segunda mais popular, Eduardo Bolsonaro aparece no Twitter fazendo campanha contra a Netflix por conta de um especial de Natal que faz humor com a figura de Cristo.
No discurso de posse do Bolsonaro, ele disse que libertaria o povo do socialismo e do politicamente correto. Como nunca tivemos um governo socialista e piada sobre religião "não pode", pelo visto, temos duas promessas não cumpridas.
Existe uma diferença entre piada que ce faria e piada que ce não faria. Piada que te faz rir e piada que ce não acha graça nenhuma. Piada que ce quer ouvir e piada que ce não quer que contem.
Enfim.
Esse negócio de fazer patrulha "em nome de Deus" é algo muito perigoso porque a gente sabe como começa mas não sabe como termina.
Deus é uma experiência íntima. Sendo metafísico, não deve jamais se misturar com questões de Estado. O que é uma zuadinha - referenciando o especial de Natal do Porta dos Fundos - aqui em cima com uma eternidade sofrendo lá embaixo?
"Meu Jesus" estaria de boas. Transformando água em vinho e assistindo à zuera.
Os Bolsonaros perceberam que os conservadores cristãos são seu público fiel e estão jogando pra loucura. Pra torcida. Simples e hipócrita assim.
Eu tenho o maior respeito, pessoalmente, pelas religiões. Acho a fé uma coisa maravilhosa, mas me fode o estômago quem faz uso dela pra ganhar dinheiro em templo, mandato, ou ad sense no Youtube.
Conservadores, no sentido mais comum no Brasil, me incomodam muito justamente porque eles incomodam os outros.
Eles nunca - ou quase nunca - estão satisfeitos em cuidar da sua própria vida. É como se eles próprios vivessem em um estado constante de insegurança sobre seus valores ou sob a sua capacidade de fazer algo que não é tão complexo porque é instintivo: criar seus filhos. Em nome dos valores da família DELES, eles querem mudar os hábitos das famílias DOS OUTROS.
Se você é conservador, deve tá pensando "claro! O seu comportamento, quando público, é visto pelos meus filhos!".
O grande erro desse raciocínio é que, ao fazer isso, você tá transferindo pro outro uma responsa que é só sua: preparar seu filho pro mundo.
Essa porra é complexa! Plural. Desigual (especialmente aqui no Brasil), e querer transformar ele - o mundo - numa extensão do seu quintal, da sua casa, é ingênuo e intolerante.
Como eu não sou conservador, não farei o que ceis fazem. Tipo algo como nos ensinar como nos comportar, quem amar, ou como criar nossos filhos mas, como pai, eu posso dar uma dica: é muito mais eficiente ensinar a sua criança a manter bons valores - independentemente do que elas veem na rua - do que tentar adaptar todo o entorno pra que o mundo não choque os olhinhos do seu bebê.
Esse é o trabalho dos pais.
Não nos cabe controlar o mundo.