quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Não nos cabe controlar o mundo.

Na mesma semana em que a ministra da família - vulgo Damares Alves - aparece como a segunda mais popular, Eduardo Bolsonaro aparece no Twitter fazendo campanha contra a Netflix por conta de um especial de Natal que faz humor com a figura de Cristo.
No discurso de posse do Bolsonaro, ele disse que libertaria o povo do socialismo e do politicamente correto. Como nunca tivemos um governo socialista e piada sobre religião "não pode", pelo visto, temos duas promessas não cumpridas.
Existe uma diferença entre piada que ce faria e piada que ce não faria. Piada que te faz rir e piada que ce não acha graça nenhuma. Piada que ce quer ouvir e piada que ce não quer que contem.
Enfim.
Esse negócio de fazer patrulha "em nome de Deus" é algo muito perigoso porque a gente sabe como começa mas não sabe como termina.
Deus é uma experiência íntima. Sendo metafísico, não deve jamais se misturar com questões de Estado. O que é uma zuadinha - referenciando o especial de Natal do Porta dos Fundos - aqui em cima com uma eternidade sofrendo lá embaixo?
"Meu Jesus" estaria de boas. Transformando água em vinho e assistindo à zuera.
Os Bolsonaros perceberam que os conservadores cristãos são seu público fiel e estão jogando pra loucura. Pra torcida. Simples e hipócrita assim.
Eu tenho o maior respeito, pessoalmente, pelas religiões. Acho a fé uma coisa maravilhosa, mas me fode o estômago quem faz uso dela pra ganhar dinheiro em templo, mandato, ou ad sense no Youtube.
Conservadores, no sentido mais comum no Brasil, me incomodam muito justamente porque eles incomodam os outros.
Eles nunca - ou quase nunca - estão satisfeitos em cuidar da sua própria vida. É como se eles próprios vivessem em um estado constante de insegurança sobre seus valores ou sob a sua capacidade de fazer algo que não é tão complexo porque é instintivo: criar seus filhos. Em nome dos valores da família DELES, eles querem mudar os hábitos das famílias DOS OUTROS.
Se você é conservador, deve tá pensando "claro! O seu comportamento, quando público, é visto pelos meus filhos!".
O grande erro desse raciocínio é que, ao fazer isso, você tá transferindo pro outro uma responsa que é só sua: preparar seu filho pro mundo.
Essa porra é complexa! Plural. Desigual (especialmente aqui no Brasil), e querer transformar ele - o mundo - numa extensão do seu quintal, da sua casa, é ingênuo e intolerante.
Como eu não sou conservador, não farei o que ceis fazem. Tipo algo como nos ensinar como nos comportar, quem amar, ou como criar nossos filhos mas, como pai, eu posso dar uma dica: é muito mais eficiente ensinar a sua criança a manter bons valores - independentemente do que elas veem na rua - do que tentar adaptar todo o entorno pra que o mundo não choque os olhinhos do seu bebê.
Esse é o trabalho dos pais.
Não nos cabe controlar o mundo.